CAVE CANEM

SINOPSE:

“CAVE CANEM” trata-se de uma obra onde se reúnem textos e imagens, recolhidas estas ao longo de vários anos e ainda um poema “Mise en  Abyme”, reelaborado a partir de um trabalho escrito e realizado em 2023.

Com a escolha da forma Leporello pretende-se apresentar ao leitor a hipótese de completar a construção mental da obra, proporcionando uma leitura visual que alterna entre o texto (poema visual) e a representação fotográfica (fotomontagem). 

[poema de Ana Alvim que integra este livro de autor]

MISE EN ABYME ou
O LUGAR DO CÃO É NO CHÃO

Os sons e os sentidos dizem:
O lugar do cão é no chão

a palavra constrói-se.
Vem por dentro de nós…
começa na cabeça e vai pelas mãos.


E onde é o lugar da mãe?
O lugar da mãe não é no chão
O lugar da mãe é no pão!

Invade-nos a palavra
sem pedir licença, e
construindo-a, ela no constrói
através dos dias,
nos olhos que se surpreendem
e nos sons que não são ditos.


Adeus à linguagem!

Surda e potente,
a viagem começa nos sons das letras e acaba a
descascar um poema devagar,
sem se importar com as coisas.


Ignorando se
O amor é vermelho ou
também existe em preto

Podem isto os poemas?
Dizer o começo e o fim do mundo?

A MEMÓRIA DOS LUGARES IMAGINÁRIOS

2/3 (Segunda parte de uma série de três artigos)

Alberto Manguel © Fotografia: Ana Alvim 2019

Uma biblioteca encerra um conjunto infinito de possibilidades, na medida em que toda a realidade narrada nas páginas de um livro transcende o espaço físico desse livro. Quando o pensamento se expande através da leitura de um texto, opera-se uma espécie de dilatação dos limites.

Lendo a obra do ex-director da Biblioteca Nacional da Argentina, torna-se bem explícito que uma biblioteca é, simultaneamente, um lugar de memória por acumulação, onde conflui a fisicalidade dos livros, e um lugar de expansão,em virtude de possuir a capacidade de abarcar e transcender a própria realidade. Esta dilatação opera-se através do uso da imaginação e da criatividade que a leitura proporciona.  

A biblioteca, enquanto lugar de expansão, abre-se à imaginação. E Manguel justifica-o através de Sir Thomas Browne, quando, no século XVII, afirmou: “temos em nós as maravilhas que buscamos no mundo exterior. Está toda a África e seus prodígios em nós próprios; somos essa valente e bem-aventurada obra da natureza que sabiamente aprende a conhecer num só volume aquilo que outros buscam em tomos infinitos e fragmentados”. Manguel considera que, sem o saber, Thomas Browne acabou por definir uma biblioteca.

Leitura: felicidade ou inquietação

Em conversa no final do encontro na Biblioteca Municipal de Torres Novas, e interpelado sobre qual forma mais adequada para criar novos leitores, Manguel responde que é contra as listas de livros obrigatórios nas escolas: “a juventude tem uma forma de subversão que é a inteligência. E assim, a leitura tem que ser motivada, tem que ser fonte de felicidade ou de inquietação, por isso, não deve ser imposta.” 

Então, como ‘vender’ um produto tão difícil? Ler é um acto que exige esforço. “Existem algumas maneiras inteligentes e eficazes para motivar a leitura: uma delas é o ensino por imitação. O professor tem que ser visivelmente apaixonado pelos livros e pela leitura. Os leitores nunca foram burros. Se um leitor cativar outro leitor, temos dois leitores motivados, ficamos então com o dobro dos leitores”.

Outra estratégia é “o alargamento dos temas para a leitura, introduzindo novos assuntos como as questões de género.” Sustenta que “criar mais leitores pode também passar por criar programas de educação para a leitura para docentes, que os torne leitores apaixonados. Criar leitores apaixonados entre os docentesimplica também a leitura de livros sobre novos temas, que abram o debate sobre a identidade feminina, a fluidez de género ou a transexualidade.“

Para Manguel, seria demasiado pedir aos bibliotecários que educassem uma sociedade e que fossem os mártires do nosso tempo: “não podemos pedir que uma biblioteca funcione como um centro de criação de cidadãos éticos dentro de uma sociedade que não é ética”. Mas, enquanto criaturas inteligentes, se a nossa espécie sobreviver, será por mérito do trabalho dos bibliotecários: “devido ao esforço do pequeno bibliotecário da pequena biblioteca da pequena cidade, que continua acreditando que a leitura é importante e que a inteligência tem valor.”

Faz notar, ainda, que na sociedade suicida em que vivemos, a tarefa de criação de leitores é excepcionalmente complexa e difícil. O que fazer para convencer esta gente jovem de que algo que é lento e difícil é útil? Como se faz para se ‘vender’um produto que é lento e difícil? “Eu digo sempre que se um leitor converte outro leitor, imediatamente duplicamos o número de leitores. Mas é uma tarefa dificílima porque estamos numa sociedade suicida, numa sociedade que promove a venda de armas, o cigarro, promove os produtos com açúcar numa epidemia de diabetes, promove o carbono… Estamos à beira de acabar com os recursos da terra, então, isso são sociedades suicidas, não alimentam a criação de leitores. Mas eu confio na inteligência e na imaginação da gente jovem. E se conseguirmos dizer aos jovens que a melhor forma de rebelião está na sua inteligência, que a leitura é a forma mais efectiva para a subversão, quem sabe possamos conseguir algo”.

Assinala ainda que existe um paradoxo essencial na nossa espécie: “desde que temos consciência de nós próprios, desde o aparecimento do Neandertalou mesmo do Sapiens, nunca conseguimos imaginar uma sociedade medianamente justa e medianamente feliz. Nunca. Sócrates, quando na «República»passa em revista as formas de sociedade, acha quenão há nenhuma que lhe pareça perfeita para a felicidade humana. E porquê? É isso que irá procurar indagar através do seu próximo trabalho, a «História das Utopias»: compreender “porque nunca funcionam as utopias”.

Humanismo e universalidade

Podemos concluir que existem dois traços fundamentais no pensamento de Alberto Manguel. A profunda crença humanistano papel da leitura e da linguagem enquanto geradoras de felicidade e a afirmação do sentido de transcendênciada linguagem; ou seja, é a linguagem que confere um estatuto de transcendência da fisicalidade e de universalidade à Biblioteca. Além da existência física e material da mesma, da pedra e da madeira de que é feita num determinado lugar, uma biblioteca acolhe tesouros que recorrem “aos inícios da linguagem humana, apresentando a evidência do que ocorreu num passado distante e também neste mesmo momento, com a esperança de servir de eleição e exemplo aos utilizadores do futuro.

A ambição de qualquer biblioteca, mais do que possuir “fachadas imponentes e autoritárias”, é promover os sete pilares da sabedoria.“Mas os sete valores da sabedoria não são o fortuito, o fácil, o superficial, o breve, o cegamente violento, o trivial; são, sim, o inteligente, o meditado, o profundo, o difícil, o imaginativo.” 

Portanto, a linguagem possui um estatuto ético. E, além desse estatuto, podemos dizer que, para Alberto Manguel, as palavras assumem também uma importante dimensão ontológica,uma vez que não servem unicamente para comunicar ou registar. As palavras assumem um carácter materializado, uma marca existencial—uma vez proferidas, as palavras que nomeiam o mundo transformam-se nesse mesmo mundo, passando elas a ser o próprio mundo: “a coisa é assumida pela palavra que a nomeia, contaminando-a e enriquecendo-a através de toda a ancestralidade e conotações e preconceitos que a palavra arrasta consigo ao longo da sua vida.”

Alberta Manguel concorda com Jorge Luís Borges quando este declara que as palavras dão vida àquilo que elas designam e descrevem, chegando mesmo a afirmar que, “se tal como os gregos nos explicaram, o nome é o arquétipo da coisa, então, nas letras da palavra ‘rosa’, existe a rosa; e o Nilo inteiro na palavra ‘Nilo’”. Ou, se quisermos, o mundo revela-se napalavra e atravésda palavra.

Uma biblioteca encerra um conjunto infinito de possibilidades, na medida em que toda a realidade narrada nas páginas de um livro transcende o espaço físico desse livro. Quando o pensamento se expande através da leitura de um texto, opera-se uma espécie de dilatação dos limites. O espaço revelado num livro estende-se até aos “lugares imaginários”. E aí, nesses lugares de utopia, não existem fronteiras para a imaginação da humanidade.

Ana Alvim (Março 2019)

ALBERTO MANGUEL — O Contador de histórias que lia para Borges

1/3 (Primeira parte de uma série de três artigos)

Alberto Manguel © Fotografia: Ana Alvim 2019

O escritor Alberto Manguel, homem de erudição admirável, falou-nos acerca de Bibliotecas e do sentido que para ele tem uma biblioteca na sociedade controversa em que nos encontramos. O seu próximo livro será sobre as Utopias e, relativamente à forma de criar novos leitores, afirmou ser contra as listas de obras obrigatórias nos currículos escolares. Vejamos porquê.

1. Escritor, poeta e ensaísta, é também editor, crítico, conferencista e organizador de antologias. Mas é sobretudo um amante de livros e de Bibliotecas. O homem elegante e sereno que atravessa discretamente o auditório da Biblioteca Pública de Torres Novas em direcção ao palco, é um contador de histórias muito especial. Através do encanto que este humanista irradia, percebe-se porque razão Georges Steiner lhe chamou um dia o “Don Juan das Bibliotecas”. Eu aguardo tranquilamente que me seja contada uma história, facto cada vez mais invulgar na actualidade. Pausadamente, Alberto Manguel começa então a contar-nos uma história através das suas valiosas palavras.

2. Pode dizer-se que este contador de histórias não é uma pessoa qualquer, porque desde muito jovem adquiriu a sabedoria da arte da oratória. É este o homem que, na sua juventude Jorge Luís Borges escolheu para seu leitor pessoal. Borges frequentava as livrarias, mas não à procura de livros. Quase cego, pretendia encontrar leitores que lessem para ele em voz alta. Aos 16 anos, Alberto Manguel trabalhava na livraria Pygmalion, em Buenos Aires, quando um dia Jorge Luís Borges ali entrou acompanhado de sua mãe e lhe pediu que lesse para ele em sua casa, pois a mãe, uma velha senhora com quase noventa anos, já se cansava muito ao fazê-lo. E entre 1964 e 1968 passou a ler para o poeta, facto determinante na construção da sua personalidade e da sua cultura enquanto leitor e enquanto escritor. Nessa data confessa, o próprio Manguel não admirava Borges: “Era famoso, mas eu lera apenas alguns dos seus poemas e histórias, e não me sentia avassalado pela sua literatura.” [1]  Confessa igualmente não ter sabido beneficiar da posição privilegiada que ocupou junto de Borges. Hoje, afirma ironicamente ter sido um adolescente que “com a arrogância típica da juventude, acreditava que estava a fazer um grande favor a um velho cego”, não se dando conta do quanto aprendia lendo para Borges. 

Curiosamente esta distância inicial dará lugar a uma profunda admiração e Borges virá a tornar-se um dos seus escritores de referência influenciando excepcionalmente a vida e a obra do jovem Manguel: “Ficava deslumbrado não tanto com os textos que ele me fazia descobrir (muitos dos quais acabaram por se tornar meus favoritos), mas com os seus comentários, que eram de uma vasta mas discreta erudição, … “. [2]

Este relacionamento na juventude virá a ser renovado mais tarde, quando Manguel regressa à Argentina para substituir Borges no cargo de director da Biblioteca Nacional de Buenos Aires. Em 2003 é editado o livro “Com Borges” no qual AM relata a experiência que foi para ele ser leitor de Borges e expressa a sua fortíssima admiração pelo poeta. Nesta obra descreve minuciosamente o ritual das sessões de leitura que decorriam no “sexto andar de um discreto prédio de apartamentos no centro de Buenos Aires, perto da praça San Martín .” Ficamos a conhecer a geografia do apartamento através da descrição exaustiva do mobiliário, poltronas, mesas, prateleiras onde Borges guardava os livros que usava para estudar. As fotografias e quadros colocados nas paredes, a disposição dos livros nas prateleiras e ainda os pequenos episódios do quotidiano de Borges fazem parte da narrativa que nos transporta até ao mundo austero e mágico da intimidade de Borges.   

Uma vida peripatética

3. Nasceu em 1948, na Argentina, é Canadiano, viveu em França e reside actualmente em Nova Iorque. Nascido em Buenos Aires, em 1948, Manguel viveu até aos sete anos em Telavive, onde o seu pai foi o primeiro embaixador argentino em Israel. Depois da sua marcante experiência enquanto leitor de Borges, Manguel deixa a Argentina pouco antes da instalação da ditadura militar e parte para a Europa em 1969. Severo Sarduy, Hector Bianciotti, Julio Cortázar e Geneviève Serreau são as suas figuras tutelares durante este período, facilitando–lhe generosamente a transição para a sua vida no estrangeiro e ajudando-o a viver da escrita. Em 1970, Manguel inicia uma “vida peripatética”, vivendo entre França, Inglaterra, Itália e o Taiti, exercendo a profissão de escritor, revisor e editor, sem nunca deixar de ser um apaixonado leitor. Em 1980, juntamente com Gianni Guadalupi compila o “Dicionário dos Lugares Imaginários”, iniciando-se então uma estreita colaboração com a editora Louise Dennys. Depois de 1983, Manguel partiu para o Canadá, onde viveu e educou os seus três filhos durante 20 anos. Tornou-se cidadão canadiano: o seu casamento com o Canadá foi um “casamento de amor”, afirma. Escolheu o Canadá como o país ao qual quer pertencer, porque é o único que conhece que se parece com uma democracia e onde pode participar de forma eficaz e consciente na construção de um discurso político: “É o único país no qual eu posso ser um cidadão e, enquanto cidadão, ter um papel activo no modo como se conduz esse país”.

Em França, perder-se numa Biblioteca 

Esta biblioteca física de Manguel transforma-se numa entidade possuidora de qualidades narrativas — assim sendo, se cada livro arrumado na prateleira nos conta uma história através das palavras que encerra, o conjunto dos livros conta a história da vida de quem os lê e possui. Mapeando uma biblioteca pode-se construir uma imagem de quem a possui, alcançando-se um conhecimento mais claro e profundo acerca do que foi a vida do leitor dessa biblioteca. 

4. Sobre a sua biblioteca pessoal instalada num antigo presbitério de pedra no vale do Loire, Manguel diz-nos que “uma biblioteca não é feita para nos encontrarmos, mas para nela nos perdermos”. O local encantatório que o escritor escolheu para instalar os seus 35 mil livros, foi durante 15 anos o lugar de memória e imaginação onde se perdeu e onde construiu a sua própria cartografia, a sua “geografia imaginária”; pareceu a Manguel e ao seu companheiro que o celeiro parcialmente demolido seria suficientemente grande para albergar a sua biblioteca e julgou que tendo encontrado o lugar para os seus livros, tivesse também encontrado o seulugar. Mas enganou-se. Na obra “Embalando a minha Biblioteca”, descreve os momentos de júbilo e satisfação passados no local onde foi instalando a sua biblioteca pessoal: a “selva exuberante de papel e tinta”, essa extraordinária criatura constituída, como ele próprio diz, “por várias camadas de bibliotecas que foram sendo construídas ao longo da sua vida, adquirindo por isso a faculdade de narrarem elas próprias a história da vida do dono destes livros”. Biblioteca que, tal como havia escrito Walter Benjamin, faz viver o autor através dos livros que possui, fazendo-o desaparecer dentro dela.

No entanto em 2015, por razões meramente burocráticas, terminaram os dias de serenidade que havia passado entre os seus volumes. Os problemas com a administração fiscal francesa agudizaram-se e, no Verão de 2015, decidiram  abandonar a França e a sua tão amada biblioteca. Tinham-se acabado os tempos felizes que havia passado entre as suas “pilhas de volumes desenterrados” desembalando a sua biblioteca. Aquilo que classificou como um “acto selvagem de renascimento” deu lugar à melancólica tarefa de desmantelar a biblioteca, ou tal como afirmou: “sepultá-la ordenadamente”. Acto este completamente inverso ao descrito no texto de Walter Benjamin “Desempacotando a Minha Biblioteca, Uma palestra sobre o coleccionador”.

A biblioteca do Loire foi embalada e transportada para um armazém em Montreal, onde jazdesde então, e Manguel diz que ainda hoje ouve os seus livros chamarem por ele em sonhos. 

Na Argentina, o Paraíso é uma Biblioteca

5. Por ironia, pouco depois de embalara sua biblioteca pessoal em 2016, foi convidado para ocupar o lendário lugar que anteriormente havia pertencido a Borges, enquanto director da  Biblioteca Nacional de Buenos Aires (BNA), cargo que ocupará durante dois anos e ao qual renunciará em 2018. 

Acerca deste período da sua vida, conta Manguel que quando assumiu o cargo de Director da BNA, se comportou como uma pessoa que “durante muitos anos havia escrito receitas de cozinha mas nunca havia cozinhado nada.”. Encontrou-se subitamente “numa grande cozinha” onde trabalhavam mais de mil pessoas. E, não sendo bibliotecário, apercebeu-se que não poderia aprender a sê-lo “nem numa semana, nem num mês e, quem sabe, nem em dois anos”. Optou portanto por confiar nos bibliotecários e converter-se em administrador.

Enquanto Director da Biblioteca Nacional, Manguel experimenta sentimentos contraditórios: se por um lado sentia um enorme prazer pela função que desempenhava, por outro mostrava-se pouco optimista . Quando ocupou o cargo,  foi subitamente colocado perante uma série de dificuldades que pouco se relacionavam com a literatura, ou a leitura, ou com os livros: “problemas técnicos como os de substituir lâmpadas, como fazer com que o pouco dinheiro que nos dão fosse suficiente, como arranjar mais…,  problemas ecológicos, problemas pessoais e familiares de mil pessoas, problemas arquitectónicos…”.

Nota que que hoje em dia os bibliotecários estão rodeados por um “oceano de forças negativas”, lutando contra o comércio da electrónica que se esforça em nos fazer crer que o livro já não é necessário. Como as bibliotecas não produzem ganhos económicos imediatos, os políticos não lhes dão meios necessários para se manterem.

Concorda que aquela foi uma experiência das mais extraordinárias da sua vida, mas ao fim de dois anos o médico disse-lhe que teria de escolher: ou deixar a Biblioteca, ou… morrer nela

Ana Alvim (Março 2019)


[1]Manguel, Alberto, Uma História da Literatura, P. 30, Editorial Presença, Lisboa, 1998.

[2]Manguel, Alberto, op.Cit. p. 32, Editorial Presença, Lisboa, 1998.

A Viagem dentro de uma casa

Paul Theroux [A Arte da Viagem, Iluminações de Vidas na Estrada, Quetzal, 2012] escreveu um maravilhoso livro cuja leitura me inspira nos momentos de melancolia, quando a imaginação parte e o meu corpo fica. Este livro percorre um determinado universo da literatura, circunscrito a alguns autores que Theroux escolhe, quer porque escreveram sobre viagens, quer porque viajaram, ou  simplesmente porque não viajaram, ou viajaram de uma forma insólita. Filosofando acerca do tema, surgem diante de nós dezenas e dezenas de autores dos quais refiro apenas  alguns daqueles que me são mais familiares: Italo Calvino e as suas “Cidades Invisíveis”, a Tânger de Paul Bowles, Hemingway festejando Paris ou  Melville percorrendo o oceano Pacífico.

Neste  livro de Theroux  descrevem-se viagens a pé, de combóio ou navio, viajantes solitátios ou em excursão. Atravessando continentes longínquos como Marco Polo ou caminhando no jardim, como Emily Dickson que em toda a sua vida de reclusão apenas se ausentou de casa duas vezes: primeiro para estudar durante um ano, no Mount Holyoke College que ficava a dezasseis quilómetros da sua casa e depois, em 1865 quando se descolou a Boston. Na categoria dos “não viajantes” como ela, descobrimos Philip Larkin que diz: “Não me importava de ver a China se pudesse voltar para casa no mesmo dia”. Ou Henry Thoreau que depois de ter passado uma semana enfadonha, rodeado de turistas, numa viajem de combóio, se vangloriava de ficar em casa, fazendo disso uma virtude e afirmando que podia “Viver em casa como um viajante” ou que “Ficar em casa é o caminho Celestial”.

Ana Alvim

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CADERNOS DE DESENHO — ENCOMENDAS PARA NATAL ATÉ DIA 15 DE DEZEMBRO
A5, Capa Dura
Dobrados,cosidos e encadernados à mão

Detalhes:
Caderno de Desenho / Diário
15cm x 21,5cm – 112 páginas.

Cosidos com Costura Copta, manual, executada com fio de algodão encerado, com tranchefile e fita marcador.
O miolo é feito em:
papel Canson (120g/ m²), de textura granulada, sem ácido, pH neutro, tratamento antifúngico e antibactérias — Este papel branco (branco amarelado) é próprio para desenho a lápis, pastel; ou:
papel Canson (120g/ m²), branco, de textura lisa macia, sem ácido, pH neutro, tratamento antifúngico e antibactérias — também é próprio para desenho a lápis, pastel;

A capa tem lombada em tela de algodão e está coberta com papel Impresso no Reino Unido— papel FSC (Forest Stewardship Council) usando tintas ecológicas, à base de óleo vegetal.

Encomendas para estes cadernos ou para encadernações personalizadas, contacte através do meu email: anac.alvim@gmail.com
(ao preço de venda acresce o valor dos portes postais)

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Viagem dentro de uma Casa

 

 

Paul Theroux [A Arte da Viagem, Iluminações de Vidas na Estrada, Quetzal, 2012] escreveu um maravilhoso livro cuja leitura me inspira nos momentos de melancolia, quando a minha imaginação parte e o meu corpo fica. Este livro percorre um determinado universo da literatura, circunscrito a alguns autores que Theroux escolhe, quer porque escreveram sobre viagens, quer porque viajaram, ou  simplesmente porque não viajaram, ou viajaram de uma forma insólita. Filosofando acerca do tema, surgem diante de nós dezenas e dezenas de autores dos quais refiro apenas  alguns daqueles que me são mais familiares: Italo Calvino e as suas “Cidades Invisíveis”, a Tânger de Paul Bowles, Hemingway festejando Paris ou  Melville percorrendo o oceano Pacífico.

Neste  livro de Theroux  descrevem-se viagens a pé, de combóio ou navio, viajantes solitátios ou em excursão. Atravessando continentes longínquos como Marco Polo ou caminhando no jardim, como Emily Dickson que em toda a sua vida de reclusão apenas se ausentou de casa duas vezes: primeiro para estudar durante um ano, no Mount Holyoke College que ficava a dezasseis quilómetros da sua casa e depois, em 1865 quando se descolou a Boston. Na categoria dos “não viajantes” como ela, descobrimos Philip Larkin que diz: “Não me importava de ver a China se pudesse voltar para casa no mesmo dia”. Ou Henry Thoreau que depois de ter passado uma semana enfadonha, rodeado de turistas, numa viajem de combóio, se vangloriava de ficar em casa, fazendo disso uma virtude e afirmando que podia “Viver em casa como um viajante” ou que “Ficar em casa é o caminho Celestial”.

Induzida por estas leituras, eu que me considero eminentemente urbana e atraída pelas grandes cidades, sobretudo as repletas de diversidade e multidões, enfim, pela verdadeira Polis, dei por mim a descrever a minha casa, onde ultimamente tenho viajado durante o Verão.

Estamos na Primavera e a vontade de Sol e Mar começa a despertar. Pensa-se já na intensidade do Verão, nos areais brilhantes e no extenso horizonte salgado. Desejamos a lassidão das longas sestas em lugares serenos onde o instinto da preguiça se torna predominantemente necessário. Deambulações, deriva e recordações de paisagens luminosas surgem-nos cada vez mais vívidas. Neste lugar, experimentam-se caminhadas através de matas e florestas plantadas em areais junto ao mar, onde sussurra a brisa do mar. Passeios de bicicleta por entre este arvoredo frondoso ou a pé, na areia fresca que a maré-baixa oferece. A luz do entardecer é difusa e aconchegante. Brilhante e púrpura é a das manhãs, onde se vislumbram dias longos e serenos que podem terminar diante do mar, na esplanada onde nos espreguiçamos diante do melhor gin tónico do mundo. São assim, simultaneamente estimulantes e serenos, os verões nesta casa em Moledo.

FOLHA DE SALA

A Cinemateca Portuguesa é um dos poucos lugares em Portugal, onde os filmes projectados podem ser precedidos pela leitura de uma folha de sala. Parece coisa pouca, não é? Mas estes Lugares, excepcionais e raros, comportam em si mesmos o Tempo —  O tempo de contemplar imagens…

Texto e Fotos © Ana Alvim

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