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CAVE CANEM

SINOPSE:

“CAVE CANEM” trata-se de uma obra onde se reúnem textos e imagens, recolhidas estas ao longo de vários anos e ainda um poema “Mise en  Abyme”, reelaborado a partir de um trabalho escrito e realizado em 2023.

Com a escolha da forma Leporello pretende-se apresentar ao leitor a hipótese de completar a construção mental da obra, proporcionando uma leitura visual que alterna entre o texto (poema visual) e a representação fotográfica (fotomontagem). 

[poema de Ana Alvim que integra este livro de autor]

MISE EN ABYME ou
O LUGAR DO CÃO É NO CHÃO

Os sons e os sentidos dizem:
O lugar do cão é no chão

a palavra constrói-se.
Vem por dentro de nós…
começa na cabeça e vai pelas mãos.


E onde é o lugar da mãe?
O lugar da mãe não é no chão
O lugar da mãe é no pão!

Invade-nos a palavra
sem pedir licença, e
construindo-a, ela no constrói
através dos dias,
nos olhos que se surpreendem
e nos sons que não são ditos.


Adeus à linguagem!

Surda e potente,
a viagem começa nos sons das letras e acaba a
descascar um poema devagar,
sem se importar com as coisas.


Ignorando se
O amor é vermelho ou
também existe em preto

Podem isto os poemas?
Dizer o começo e o fim do mundo?

A Viagem dentro de uma casa

Paul Theroux [A Arte da Viagem, Iluminações de Vidas na Estrada, Quetzal, 2012] escreveu um maravilhoso livro cuja leitura me inspira nos momentos de melancolia, quando a imaginação parte e o meu corpo fica. Este livro percorre um determinado universo da literatura, circunscrito a alguns autores que Theroux escolhe, quer porque escreveram sobre viagens, quer porque viajaram, ou  simplesmente porque não viajaram, ou viajaram de uma forma insólita. Filosofando acerca do tema, surgem diante de nós dezenas e dezenas de autores dos quais refiro apenas  alguns daqueles que me são mais familiares: Italo Calvino e as suas “Cidades Invisíveis”, a Tânger de Paul Bowles, Hemingway festejando Paris ou  Melville percorrendo o oceano Pacífico.

Neste  livro de Theroux  descrevem-se viagens a pé, de combóio ou navio, viajantes solitátios ou em excursão. Atravessando continentes longínquos como Marco Polo ou caminhando no jardim, como Emily Dickson que em toda a sua vida de reclusão apenas se ausentou de casa duas vezes: primeiro para estudar durante um ano, no Mount Holyoke College que ficava a dezasseis quilómetros da sua casa e depois, em 1865 quando se descolou a Boston. Na categoria dos “não viajantes” como ela, descobrimos Philip Larkin que diz: “Não me importava de ver a China se pudesse voltar para casa no mesmo dia”. Ou Henry Thoreau que depois de ter passado uma semana enfadonha, rodeado de turistas, numa viajem de combóio, se vangloriava de ficar em casa, fazendo disso uma virtude e afirmando que podia “Viver em casa como um viajante” ou que “Ficar em casa é o caminho Celestial”.

Ana Alvim

FOLHA DE SALA

A Cinemateca Portuguesa é um dos poucos lugares em Portugal, onde os filmes projectados podem ser precedidos pela leitura de uma folha de sala. Parece coisa pouca, não é? Mas estes Lugares, excepcionais e raros, comportam em si mesmos o Tempo —  O tempo de contemplar imagens…

Texto e Fotos © Ana Alvim

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