A Viagem dentro de uma casa

Paul Theroux [A Arte da Viagem, Iluminações de Vidas na Estrada, Quetzal, 2012] escreveu um maravilhoso livro cuja leitura me inspira nos momentos de melancolia, quando a imaginação parte e o meu corpo fica. Este livro percorre um determinado universo da literatura, circunscrito a alguns autores que Theroux escolhe, quer porque escreveram sobre viagens, quer porque viajaram, ou  simplesmente porque não viajaram, ou viajaram de uma forma insólita. Filosofando acerca do tema, surgem diante de nós dezenas e dezenas de autores dos quais refiro apenas  alguns daqueles que me são mais familiares: Italo Calvino e as suas “Cidades Invisíveis”, a Tânger de Paul Bowles, Hemingway festejando Paris ou  Melville percorrendo o oceano Pacífico.

Neste  livro de Theroux  descrevem-se viagens a pé, de combóio ou navio, viajantes solitátios ou em excursão. Atravessando continentes longínquos como Marco Polo ou caminhando no jardim, como Emily Dickson que em toda a sua vida de reclusão apenas se ausentou de casa duas vezes: primeiro para estudar durante um ano, no Mount Holyoke College que ficava a dezasseis quilómetros da sua casa e depois, em 1865 quando se descolou a Boston. Na categoria dos “não viajantes” como ela, descobrimos Philip Larkin que diz: “Não me importava de ver a China se pudesse voltar para casa no mesmo dia”. Ou Henry Thoreau que depois de ter passado uma semana enfadonha, rodeado de turistas, numa viajem de combóio, se vangloriava de ficar em casa, fazendo disso uma virtude e afirmando que podia “Viver em casa como um viajante” ou que “Ficar em casa é o caminho Celestial”.

Ana Alvim

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